Friday, March 31, 2006

Gato que brincas na rua...

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa



Ia pela rua, pelo caminho tantas e tantas vezes caminhado até à escola e encontrei um gato. Um gato que me fazia lembrar algo, um gato que tinha significado, que não passava ali por acaso, que já se tinha cruzado comigo algures noutra vida ou noutra dimensão. Um gato que me fascinava, um gato que me fazia sonhar, um gato que estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe, que caminhava como num altar em direcção ao céu, em direcção ao sol. Um gato que era o meu gato, que de meu nada tinha porque não estava na sua Natureza ter dono. Um gato que simbolizou o alcance de um sonho de menina, um gato que surgiu inesperadamente assustado e amedrontado, que me fascinou, que me fez sonhar, que me fez acreditar na vida,que me ensinou tanta coisa... E, também, que partiu... Partiu de uma forma dramática, de um modo que não esperava, partiu deixando um vazio que nada nem ninguém mais vai substituír... Partiu sem se despedir de mim - ingrato (?). Partiu porque mais não conseguia viver - coitado (?). Partiu e deixou-me perdida, desolada, angustiada, atormentada... Partiu... E nunca mais o vou ver... Gostaria de lhe ter dito o quanto gostava dele, gostaria de lhe ter pedido que não partisse, gostaria de ter implorado que não fosse tão cruel comigo... Mas estará para sempre dentro de mim, no meu pensamento, no meu coração, no meu ser. E nunca, nunca deixará de ser - o meu gato. Até sempre, meu grande grande amigo...

7 comments:

Quimera said...

Apesar do Gato ter partido, seria bem pior se nunca o tivesses visto sequer..pois as várias sensações que despertou em ti, nunca teriam ocorrido n'era?
Obrigado pela visita lá ao nosso blog sem jeito...continuaremos a ser teus visitantes assíduos!
Beijinho

bonifaceo said...

É como o quebra-costas diz. É sempre penoso a partida dum nosso animal de estimação quando realmente gostamos deles.
Beijo.

Seamoon said...

Gostei...jinhos

Ritinha said...

Obrigada a todos pelas vossas palavras. Na verdade o que escrevi no blog já aconteceu há algum tempo (só agora é que me senti em condições para escrever sobre isto) e apesar de a primeira parte do texto ter algo de ficção o que aconteceu foi real e ainda me custa muito pensar nisso... Obrigada a todos!

Beijinhos

Seamoon said...

Continua este blog..está ficando bem giro..
bjs

Ritinha said...

Obrigada a todos também pelos elogios à minha escrita. Na verdade, quando escrevo, tenho sempre a sensação de que o meu texto não irá interessar a ninguém. Por isso, se interessar a uma pessoa que seja, já é muito bom.

Beijinhos

a said...

Está muito giro este post! Gostei muito de lê-lo. Há muitos "gatos" destes na nossa vida mas muitas vezes estamos tão ocupados com outras coisas que nem damos por eles... que bom que estavas atenta. obrigada por nos lembrares que nos devemos permitir sentir, viver, amar sem porquê. beijinhos