Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
Ia pela rua, pelo caminho tantas e tantas vezes caminhado até à escola e encontrei um gato. Um gato que me fazia lembrar algo, um gato que tinha significado, que não passava ali por acaso, que já se tinha cruzado comigo algures noutra vida ou noutra dimensão. Um gato que me fascinava, um gato que me fazia sonhar, um gato que estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe, que caminhava como num altar em direcção ao céu, em direcção ao sol. Um gato que era o meu gato, que de meu nada tinha porque não estava na sua Natureza ter dono. Um gato que simbolizou o alcance de um sonho de menina, um gato que surgiu inesperadamente assustado e amedrontado, que me fascinou, que me fez sonhar, que me fez acreditar na vida,que me ensinou tanta coisa... E, também, que partiu... Partiu de uma forma dramática, de um modo que não esperava, partiu deixando um vazio que nada nem ninguém mais vai substituír... Partiu sem se despedir de mim - ingrato (?). Partiu porque mais não conseguia viver - coitado (?). Partiu e deixou-me perdida, desolada, angustiada, atormentada... Partiu... E nunca mais o vou ver... Gostaria de lhe ter dito o quanto gostava dele, gostaria de lhe ter pedido que não partisse, gostaria de ter implorado que não fosse tão cruel comigo... Mas estará para sempre dentro de mim, no meu pensamento, no meu coração, no meu ser. E nunca, nunca deixará de ser - o meu gato. Até sempre, meu grande grande amigo...
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
Ia pela rua, pelo caminho tantas e tantas vezes caminhado até à escola e encontrei um gato. Um gato que me fazia lembrar algo, um gato que tinha significado, que não passava ali por acaso, que já se tinha cruzado comigo algures noutra vida ou noutra dimensão. Um gato que me fascinava, um gato que me fazia sonhar, um gato que estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe, que caminhava como num altar em direcção ao céu, em direcção ao sol. Um gato que era o meu gato, que de meu nada tinha porque não estava na sua Natureza ter dono. Um gato que simbolizou o alcance de um sonho de menina, um gato que surgiu inesperadamente assustado e amedrontado, que me fascinou, que me fez sonhar, que me fez acreditar na vida,que me ensinou tanta coisa... E, também, que partiu... Partiu de uma forma dramática, de um modo que não esperava, partiu deixando um vazio que nada nem ninguém mais vai substituír... Partiu sem se despedir de mim - ingrato (?). Partiu porque mais não conseguia viver - coitado (?). Partiu e deixou-me perdida, desolada, angustiada, atormentada... Partiu... E nunca mais o vou ver... Gostaria de lhe ter dito o quanto gostava dele, gostaria de lhe ter pedido que não partisse, gostaria de ter implorado que não fosse tão cruel comigo... Mas estará para sempre dentro de mim, no meu pensamento, no meu coração, no meu ser. E nunca, nunca deixará de ser - o meu gato. Até sempre, meu grande grande amigo...